quarta-feira, 11 de julho de 2012


A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos
já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos
corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados
e angústias, a vida é proporcionalmente muito mais longa
do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção
com o grau de adiantamento dos mundos. A morte
de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe
de causar pavor, é considerada uma transformação feliz,
por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante
a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta,
expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em
estado quase permanente de emancipação e lhe consente a
livre transmissão do pensamento.
10. Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas
entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição,
da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho,
nem pela guerra que daí decorre. Não há senhores, nem
escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a superioridade
moral e intelectual estabelece diferença entre as condições
e dá a supremacia. A autoridade merece o respeito
de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce
sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima
do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu
objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe
constituindo um tormento esse desejo, porém, uma ambição
nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar.
Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza
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humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-
se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças
da inveja; um laço de amor e fraternidade prende uns aos
outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais
fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme
os tenham adquirido, mais ou menos por meio da
inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário,
uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa
palavra: o mal, nesses mundos, não existe.
11. No vosso, precisais do mal para sentirdes o bem; da
noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a
saúde. Naqueles outros não há necessidade desses contrastes.
A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade
da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser perturbada
pelas angústias da vida material, ou pelo contacto
dos maus, que lá não têm acesso. Isso o que o espírito humano
maior dificuldade encontra para compreender. Ele
foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno,
mas nunca pôde imaginar as alegrias do céu. Por quê?
Porque, sendo inferior, só há experimentado dores e misérias,
jamais entreviu as claridades celestes; não pode, pois,
falar do que não conhece. À medida, porém, que se eleva e
depura, o horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem
que está diante de si, como compreendeu o mal que lhe
está atrás.
12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados,
visto que Deus não é parcial para qualquer de
seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas
facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos
do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos
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HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI 91
outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas
lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu trabalho,
alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos
de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do
ensino de todos os Espíritos superiores.)
MUNDOS DE EXPIAÇÕES E DE PROVAS
13. Que vos direi dos mundos de expiações que já não
saibais, pois basta observeis o em que habitais? A superioridade
da inteligência, em grande número dos seus habitantes,
indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado
à encarnação dos Espíritos que acabaram de sair
das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles trazem
consigo constituem a prova de que já viveram e realizaram
certo progresso. Mas, também, os numerosos vícios a que
se mostram propensos constituem o índice de grande imperfeição
moral. Por isso os colocou Deus num mundo ingrato,
para expiarem aí suas faltas, mediante penoso trabalho
e misérias da vida, até que hajam merecido ascender
a um planeta mais ditoso.
14. Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na
Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais
selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da
infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em curso
de educação, para se desenvolverem pelo contacto com
Espíritos mais adiantados. Vêm depois as raças semicivilizadas,
constituídas desses mesmos Espíritos em via de progresso.
São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra,
que aí se elevaram pouco a pouco em longos períodos se-
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culares, algumas das quais hão podido chegar ao aperfeiçoamento
intelectual dos povos mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa
forma, são exóticos, na Terra; já viveram noutros mundos,
donde foram excluídos em conseqüência da sua obstinação
no mal e por se haverem constituído, em tais mundos,
causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degredados,
por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados,
com a missão de fazer que estes últimos avançassem,
pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o
gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que
os Espíritos em punição se encontram no seio das raças
mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que
de mais amargor se revestem os infortúnios da vida. É que
há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas
pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas,
cujo senso moral se acha mais embotado.
15. A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de
mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando
todos, como caráter comum, o servirem de lugar de
exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos
têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos
homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo
trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades
do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua
bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do
progresso do Espírito. – Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

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