Os
Exilados da Capela Edgard Armond
E
como poderiam essas mulheres inspiradas fechar os olhos à luz radiante que
descia
dos céus? (25)
(25)
Estas profecias foram rigorosamente cumpridas, o que demonstra o sublime
encadeamento
dos eventos da vida espiritual planetária, como também prova o quanto eram
iluminados
pela Verdade os instrumentos humanos que as proferiram.
E
o próprio Mestre, nos inesquecíveis dias da sua exemplificação evangélica não
disse -
"que
não vinha destruir a lei, mas cumpri-la?" E quantas vezes não advertiu: -
"que era necessário
que
assim procedesse, para que as escrituras se cumprissem!"
Portanto,
nas tradições que cultuamos, a Verdade se contém indestrutível e do passado se
projeta
no futuro como uma luz forte que ilumina todo o caminho da nossa marcha
evolutiva.
E,
por fim, a sibila Aneyra, da Frigia
"O
Filho Excelso do Pai Poderoso,
Tendo
sofrido a morte abate-se, frio, inerte,
Sobre
o colo débil de sua mãe.
Vendo-lhe
o corpo dessangrado
Ela
sofre profundo golpe. Ei-lo! Está morto!
Sem
Ele nós morreríamos em nossos próprios pecados."
68
XXI
- E O VERBO SE FEZ CARNE
E
então vieram dias nos quais mais que nunca, havia uma aura de expectação em
toda
a Natureza e um mudo e singular anseio no coração dos homens.
As
vozes dos profetas tinham soado, advertindo todo o mundo sobre o advento
miraculoso
e até mesmo o local do divino nascimento já estava determinado, como vimos
por
Miquéias, da Palestina, e pelo Barta-Chastran, da Índia.
Estava-se
no século de Augusto, sob um pleno reinado de paz e de glória.
O
espírito dos dominadores saciado de vitórias e derrotas, repousava...
Floresciam
as artes, a literatura, a indústria e o comércio, e a charrua arroteava os
campos
fecundos, conduzida pelas mãos rudes e calejadas dos guerreiros inativos.
Em
todos os lares, plebeus ou patrícios, as oferendas votivas se acumulavam nos
altares
engalanados dos deuses penates.
Os
templos sagrados de Marte tinham, enfim, cerrado suas portas; e as naves
romanas
trirremes, ao cantar monótono e doloroso dos escravos remadores, sulcavam,
altivas,
os verdes mares latinos, pejadas de mercadorias pacíficas vindas de todos os
portos
do
globo.
Na
Roma imperial os dias se levantavam e se deitavam ao esplendor bárbaro e
fascinante
das diversões infindáveis dos anfiteatros repletos; e, sob a segurança das
multidões
apaziguadas pelo aroma do pão de trigo, bendito e farto, que não faltava mais
em
nenhum
lar, o César sobrevivia...
Saturado
de glória efêmera e apoiado nas suas legiões invencíveis, e senhor do
mundo,
recebia, indiferente e entediado, as homenagens e as reverências de todas as
nações
que
conquistara.
A
ordem romana, a lei romana, a paz romana, sem contestadores, imperavam por
toda
parte.
Mas,
inexplicavelmente, envolta a essa atmosfera de alegria e de abundância
soprava,
não se sabendo donde vinha nem para aonde ia, uma aragem misteriosa e
indefinível
de inquietação intima e de ansiedade, de temor insólito e de emoção.
Rumores
estranhos circulavam de boca em boca, de cidade em cidade, nação em
nação,
penetrando em todos os lares e corações; uma intuição maravilhosa e profunda de
alguma
coisa extraordinária que estava para acontecer, que modificaria a vida do
mundo.
Olhos
interrogadores se voltavam de contínuo para os céus, perscrutando os
horizontes
em busca de sinais e evidências desse acontecimento surpreendente que se
aproximava.
As
sibilas, oráculos e adivinhos eram consultados com mais frequência e os homens
idosos,
de mais experiência e bom conselho, eram procurados e ouvidos com mais respeito
e
reverência.
Foi
quando Virgílio escreveu esta profecia memorável, que tão depressa viria a ter
cumprimento:
-
"Vede como todo o mundo se abala, como as terras e os vastos mares exultam
de
alegria,
com o século que vai começar!... O Infante governará o mundo purificado... a
serpente
perecerá."
E,
logo em seguida, como inspiradamente revelando a verdade:
-
"Chegam, enfim, os tempos preditos pela sibila de Cumes: vai se abrir uma
nova
série
de ciclos; a Virgem já volve ao reino de Saturno; surgirá uma nova raça; um
novo
rebento
desce do alto dos céus."
69
E
o grande dia, então, surgiu, quando o César desejando conhecer a soma de seus
inumeráveis
súditos, determinou o censo da população de todo o seu vasto império.
Então,
José, carpinteiro modesto e quase desconhecido, da pequena vila de Nazaré,
na
Galiléia dos Gentios e natural de Belém, tomou de sua esposa Miriam - que
estava
grávida
- e empreendeu a jornada inesquecível. Por serem pobres e humildes, aceitaram o
auxílio
de amigos solícitos e abrigaram-se em um estábulo de granja. Ali, então, o
grande
fato
da história espiritual do mundo sucedeu.
Aquele
que devia redimir a humanidade de seus males foi ali exposto, envolto
apressadamente
em panos pobres e seus primeiros vagidos foram emitidos em pleno
desconforto,
salvo o que lhe vinha da desvelada assistência dos seus genitores; o mesmo
desconforto,
aliás, que O acompanharia em todos os dias de sua vida, que O levou a dizer
mais
tarde, já em pleno exercício de sua missão salvadora: "o Filho do Homem
não tem
onde
repousar a cabeça."
O
espírito glorioso e divino deu assim ao mundo, desde o nascer, um exemplo
edificante
de humildade e de desprendimento; o desejado de todos os povos, o reclamado
por
todos os corações e anunciado por todos os profetas, em todas as línguas do
mundo,
então
conhecido, nasceu, assim, quase ignorado numa casa humilde para que o Evangelho
que
ia mais tarde pregar, de renúncia e de fraternidade, recebesse d'Ele mesmo,
desde os
primeiros
instantes, tão patético e comovente testemunho.
Emocionante
momento esse!...
A
estrela dos sacerdotes caldaicos se levantara no horizonte; o Verbo se fizera
carne
e,
descendo à terra, habitara entre os homens.
O
Sol, em seu giro fecundante, gloriosamente entrava em Peixes, e a ampulheta do
tempo,
nesse instante, marcou o encerramento de um ciclo que teve início, como já
vimos,
com
a depuração espiritual do mundo, após a comunhão de espíritos do céu e da
terra, a
queda
de uns servindo à elevação de outros, visando à unidade, que é a consumação
fundamental
da criação divina.
Também
marcou a abertura de um outro ciclo, em que os frutos dos ensinamentos
trazidos
pelos Enviados do Senhor e por Ele próprio ratificados e ampliados, quando
entre
os
homens viveu, brotassem, fecundos e promissores, da árvore eterna da vida, para
que a
evolução
da humanidade, daí por diante, se desenvolvesse em bases morais mais sólidas e
perfeitas.
A
promessa feita nos paramos etéreos da Capela estava, pois, cumprida: Ele desceu,
o
Divino Senhor, ao seio ignaro e impuro da massa humana terrestre, para trazer o
auxílio
prometido,
para redimir com sua presença, sua exemplificação e seus ensinamentos
sublimes,
as duas raças de homens, a da Capela e a da Terra que, no correr dos tempos,
mesclaram,
confraternizaram e partilharam os mesmos sofrimentos, angústias e esperanças.
70
XXII
- A PASSAGEM DO MILÊNIO
Assim
atingimos o último ciclo.
Dois
mil anos são transcorridos, após o sublime avatar; entretanto, eis que a
humanidade
vive agora um novo período de ansiosa e dolorosa expectativa; mais que
nunca,
e justamente porque seu entendimento se alargou, crescendo sua
responsabilidade,
necessita
ela de um Redentor.
Porque
os ensinamentos maravilhosos do Messias de Deus foram, em grande parte,
desprezados
ou deturpados.
O
rumo tomado pelas sociedades humanas não é aquele que o Divino Pastor
apontou
ao rebanho bruto dos primeiros dias, aos Filhos da Promessa que desceram dos
céus,
e continua a apontar às gerações já mais esclarecidas e conscientes dos nossos
tempos.
Os
homens se desviaram por maus caminhos e se perderam nas sombras da maldade
e
do crime.
Como
da primeira vez, os degredados e seus descendentes deixaram-se corromper
pelas
paixões e foram dominados pelas tentações do mundo material.
Sua
inteligência, grandemente desenvolvida no transcorrer dos séculos, foi aplicada
na
conquista de bens perecíveis; os templos dos deuses da guerra, transferidos
agora para as
oficinas
e as chancelarias, nunca mais, desde muito, se fecharam, e a violência e a
corrupção
dominam por toda a terra. O amálgama das raças e sua espiritualização na
unidade
- que era a tarefa planetária dos Exilados - não produziram os desejados
efeitos,
pois
que parte da humanidade vive e se debate na voragem nefanda da morte,
destruindo-se
mutuamente,
enquanto muitos dos Filhos da Terra ainda permanecem na mais lamentável
barbárie
e na ignorância de suas altas finalidades evolutivas.
Pode
hoje o narrador repetir como antigamente:
-
" e viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a
terra..." (Gn,
6:5)
Por
isso, agora, ao nos avizinharmos do encerramento deste ciclo, nossos corações
se
confrangem e atemorizam: tememos o dia do novo juízo, quando o Cristo, sentado
no
seu
trono de luzes, pedir-nos contas de nossos atos.
Porque
está escrito, para se cumprir como tudo o mais se tem cumprido:
-
"O Filho do Homem será o juiz.
Pois,
como o Pai tem em si mesmo a vida, concede também ao Filho possuir a vida
em
si; igualmente deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem." (Jo,
5:22,26-27)
Não
virá Ele, é certo, conviver conosco novamente na Terra, como nos tempos
apostólicos,
mas, conforme estiver presente ou ausente em nossos corações, naquilo que
ensinou
e naquilo que, essencialmente, Ele mesmo é, a saber: sabedoria, amor e
purezaassim
seremos
nós apartados uns dos outros.
*
Já
dissemos e mostramos que, de tempos em tempos, periodicamente, a humanidade
atinge
um momento de depuração, que é sempre precedido de um expurgo planetário, para
que
dê um passo avante em sua rota evolutiva.
Estamos,
agora, vivendo novamente um período desses e, nos planos espirituais
superiores,
já se instala o divino tribunal; seu trabalho consiste na separação dos bons e
dos
71
maus,
dos compatíveis e incompatíveis com as novas condições de vida que devem reinar
na
Terra futuramente.
No
Evangelho, como já dissemos, está claramente demonstrada pelo próprio mestre
a
natureza do veredito: passarão para a direita os espíritos julgados merecedores
de acesso,
aqueles
que, pelo seu próprio esforço, conseguiram a necessária transformação moral; os
já
então
incapazes de ações criminosas conscientes; os que tiverem dominado os instintos
da
violência,
pela paz; do egoísmo, pelo desprendimento; da ambição, pela renúncia; da
sensualidade,
pela pureza.
Todos
aqueles, enfim, que possuírem em seus perispírito a luminosidade
reveladora
da renovação, esses passarão para a direita;
poderão fazer parte da nova
humanidade
redimida; habitarão o mundo purificado do Terceiro Milênio, onde imperarão
novas
leis, novos costumes, nova mentalidade social, e no qual os povos, pela sua
elevada
conduta
moral, tornarão uma realidade viva os ensinamentos do Messias.
Quanto
aos demais, aqueles para os quais as luzes da vida espiritual ainda não se
acenderam,
esses passarão para a esquerda, serão relegados a mundos inferiores, afins,
onde
viverão
imersos em provas mais duras e acerbas, prosseguindo na expiação de seus erros,
com
os agravos da obstinação.
Todavia,
a misericórdia, como sempre, os cobrirá, pois terão como tarefa redentora
o
auxílio e a orientação das humanidades retardadas desses mundos, com vistas ao
apressamento
de sua evolução coletiva.
Então,
como sucedeu com os capelinos, em relação à Terra, assim sucederá com os
terrícolas
em relação aos orbes menos felizes, para onde forem degredados e, perante os
quais
como antigamente sucedeu, transformar-se-ão em Filhos de Deus, em anjos
decaídos.
*
E
o Senhor disse:
-
"Em verdade, vos digo que não passará esta geração sem que todas estas
coisas
aconteçam."
(Mt, 24:34)
Em
sua linguagem sugestiva e alegórica referia-se o Mestre a esta geração terrena,
formada
por todas as raças, cuja evolução vem da noite dos tempos, nos períodos
geológicos,
alcança os nossos dias e prosseguirá pelo tempo adiante.
Não
passará, quer dizer: não ascenderá na perfectibilidade, não habitará mundos
melhores,
não terá vida mais feliz, antes que redima os erros do pretérito e seja
submetida
ao
selecionamento que se dará neste fim de ciclo que se aproxima. Assim, o expurgo
destes
nossos
tempos - que já está sendo iniciado nos planos etéreos promoverá o alijamento
de
espíritos
imperfeitos para outros mundos e, ao mesmo tempo, a imigração de espíritos de
outros
orbes para este.
Os
que já estão vindo agora, formando uma geração de crianças tão diferentes de
tudo
quanto tínhamos visto até o presente, são espíritos que vão tomar parte nos
últimos
acontecimentos
deste período de transição planetária, que antecederá a renovação em
perspectiva;
porém, os que vierem em seguida, serão já os da humanidade renovada, os
futuros
homens da intuição, formadores de nova raça - a sexta - que habitará o mundo do
Terceiro
Milênio.
Já
estão descendo à Terra os Espíritos Missionários, auxiliares do Divino Mestre,
encarregados
de orientar as massas e ampará-las nos tumultos e nos sofrimentos coletivos
que
vão entenebrecer a vida planetária nestes últimos dias do século.
72
Lemos
no Evangelho e também ouvíamos, de há muito, a palavra dos Mensageiros
do
Senhor advertindo que os tempos se aproximavam e, caridosamente, aconselhando
aos
homens
que se guardassem do mal, orando e vigiando, como recomendara o Mestre.
Mas,
agora, essas mesmas vozes nos dizem que os tempos já estão chegados, que
o
machado
já está posto novamente à raiz das árvores e os fatos que se desenrolam perante
nossos
olhos estão de forma evidente, comprovando as advertências.
Estas,
como também sucedeu nos tempos da Codificação, são uniformes nos seus
termos
em todos os lugares e ocasiões, demonstrando, assim, que há uma ordenação de
caráter
geral, vinda dos Planos Superiores, para a coordenação harmoniosa concordante
dos
acontecimentos
planetários.
Que
ninguém, pois, permaneça indiferente a estes misericordiosos avisos, para que
possa,
enquanto ainda é tempo, engrossar as fileiras daqueles que, no próximo
julgamento,
serão
dignos da graça e da felicidade da redenção.
O
Sol entrará, agora, no signo de Aquário.
Este
é um signo de luz e de espiritualidade e governará um mundo novo onde, como
já
dissemos, mais altos atributos morais caracterizarão o homem planetário; onde
não
haverá
mais lugar para as imperfeições que ainda hoje nos dominam; onde somente
viverão
aqueles
que forem dignos do título de Discípulos do Cristo em Espírito e Verdade.
O
novo ciclo - que se chamará o Reino do Evangelho - será iniciado pelos homens
da
Sexta Raça e terminado pelos da Sétima, e em seu transcurso a Terra se
transformará de
mundo
de expiação em mundo regenerado.
Em
grande maioria, julgamos, os atuais moradores da Terra não serão dignos de
habitar
esse mundo melhor, porque o nível médio da espiritualização planetária é ainda
muito
precário; todavia, nem por isso seremos privados, qualquer que seja a nossa
sorte,
dos
benefícios da compaixão do Senhor e de Sua ajuda divina; e essa esperança nos
levanta,
ainda
em tempo, para novas lutas, novas tentativas, novos esforços redentores.
Cristo,
essa luz que não pudemos ainda conquistar, representa para nossos espíritos
retardados,
um ideal humano a atingir, um arquétipo de sublimada expressão espiritual e
seu
Evangelho, de beleza ímpar e de sabedoria incomparável, uma meta a alcançar
algum
dia.
*
O
homem desviou-se de seus rumos, fugiu do aprisco acolhedor, entronizando a
inteligência
e desprezando os sentimentos do coração.
A
ciência produziu frutos em largas messes que, entretanto, têm sido amargos, não
servindo
para alimentar a alma, enobrecendo-a.
Agora
chegará o momento em que o coração dirá ao cérebro: "basta", e o homem,
com
base nas palavras do Messias, provará que somente o amor redime para a
eternidade.
Por
isso, no novo ciclo que se vai abrir, repetimos: um novo paraíso será perdido
para
muitos; novos Filhos de Deus mais uma vez acharão formosas as Filhas da Terra,
tomá-las-ão
para si e ouvirão novamente a palavra do Senhor, dizendo:
"Frutificai e multiplicai e enchei
a Terra." (Gn,1:22)