sexta-feira, 27 de julho de 2012



BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS 143
OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS
23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade,
que também incessantemente lhe foge, porque felicidade
sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado
às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida
terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade,
se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às
mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de
a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos
gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do
coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra
ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o
homem, como que de intento, cria para si tormentos que
está nas suas mãos evitar.
Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do
ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão
perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros
possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos
de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em
eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar,
nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do
ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que
não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar
todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não
é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados
os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as
suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações
merecidas.
Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que
sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o
Sem título-1 143 13/04/05, 15:30
144 O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
que não possui, que não procura parecer mais do que é.
Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e
não para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que
ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas.
E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades
da vida? – Fénelon. (Lião, 1860.)

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